Vicente era um comerciante sem talento que trabalhava em uma empresa de venda de obras de arte. De tanto ver quadros e esculturas, começou a se fazer uma pergunta: como ser criativo?

Quando já tinha 27 anos, Vicente começou a desenhar. Seus primeiros desenhos eram uma porcaria. Os segundos também.

Ele então começou a estudar fervorosamente técnicas de desenho e pintura. Todo santo dia. Durante quase dez anos, pintou 860 telas e 1.300 aquarelas, desenhos, esboços e gravuras.

Algumas dessas obras ele desenhou repetidamente, dezenas de vezes, até chegar a um resultado satisfatório.

Mas foi só nos dois últimos anos dessa jornada épica que ele conseguiu produzir alguma coisa que foi posteriormente reconhecida pelo mundo como realmente criativa e inovadora.

Van Gogh foi então tido como gênio, como alguém que nasceu com um dom para as artes.

O que poucos sabiam, no entanto, é que desde que decidiu começar a desenhar, aos 27, até se matar, aos 37, ele estudou e treinou arduamente suas habilidades.

A história de Vincent van Gogh levanta uma questão que é muito discutida: como ser criativo por meio de treino, disciplina, trabalho duro?

A criatividade, afinal, é um dom? Nós nascemos com ela ou podemos aprendê-la e treiná-la?

E, se podemos treiná-la, quais as melhores técnicas e ferramentas para desenvolver a criatividade?

Continue lendo este artigo para saber:

  • Como a criatividade pode ser treinada da mesma maneira que um músculo
  • Os 5 elementos da criatividade
  • O processo criativo
  • Como ser criativo mesmo sem talento: as 12 melhores técnicas e suas ferramentas

Ao final do post, você vai poder baixar gratuitamente um bônus com 21 livros sobre como ser criativo, cuidadosamente selecionados.

Primeiro, vamos tirar logo o elefante do meio da sala e mostrar que a criatividade pode, sim, ser desenvolvida.

Como a criatividade pode ser treinada da mesma maneira que um músculo

Você acredita que uma pessoa nasce criativa, com um dom especial para pensar de maneira diferente, para produzir trabalhos artísticos, para enxergar soluções onde ninguém mais as vê?

Ou acha que todo bebê sabe como ser criativo e, com o passar do tempo, vai perdendo essa habilidade por falta de uso?

Essa dúvida foi alvo de uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard, que concluiu que a criatividade é uma habilidade que depende 85% de aprendizado e treino. Os 15% restantes vêm da sua aptidão natural para ela.

Ou seja, pode até ser que Van Gogh tenha nascido “15% talentoso”, mas o que fez com que ele se tornasse um dos maiores artistas da história foi o trabalho duro e incessante para desenvolver a sua criatividade durante dez longos anos.

A boa notícia é que você pode fazer igual e desenvolver o seu potencial criativo, mesmo sem nenhum talento ou dom especial.

Mas por que você faria isso?

Há duas razões

Como ser criativo: Van Gogh

A primeira é utilitária. Uma pesquisa realizada pela IBM com 1.500 presidentes de empresas descobriu que criatividade foi colocada como o mais importante fator de sucesso para um executivo.

Em outras palavras, se você busca crescimento profissional, deve descobrir como ser criativo no trabalho e na vida.

Essa pesquisa também acaba com o mito de que a necessidade de ser criativo é só de profissões como publicidade, design, artes e outras da turma de Humanas.

Um médico precisa ser criativo (alô, Dr. House!), um engenheiro precisa pensar em soluções inovadoras, um executivo necessita criar formas de gerenciar que gastem menos e gerem mais resultados.

Eis um exemplo pessoal. Eu fiz faculdade de Jornalismo. No curso de comunicação social, há muita gente considerada “criativa” na forma de pensar, vestir, falar e se portar.

Depois fiz uma segunda graduação em Direito, um curso considerado mais careta, conservador.

No entanto, tenho visto até mais necessidade de ser criativo para encontrar saídas jurídicas em casos complexos do que via no meio da galera de cabelo colorido.

A segunda razão é autotélica, ou seja, a própria atividade de ser mais criativo é a finalidade. Todo o restante é consequência, é pelo prazer.

Pessoas criativas dedicam-se a assuntos sobre os quais elas nada sabem só pelo hobby, sem um objetivo definido. Depois, usam essas ideias de forma recombinada para resolver problemas.

O cérebro plástico moldável

O plástico, quando quente, molda-se a qualquer forma. Desde um simples copo até uma cadeira de avião.

Depois que esfria, aquela forma acaba sendo a definitiva, até que o plástico seja esquentado novamente.

Nosso cérebro possui capacidade semelhante para se adaptar a qualquer habilidade a que seja repetidamente submetido. Inclusive para aprender como ser criativo.

O Dr. Michael M. Merzenich, da Universidade da Califórnia, estuda o conceito de plasticidade cerebral há mais de dez anos.

Em uma palestra no TED Talks, Merzenich explica como o cérebro possui a incrível habilidade de se desenvolver de maneira ativa.

Michael M. Merzenich sobre Plasticidade Cerebral

Essa mesma ideia é defendida em profundidade pela pesquisadora de Stanford Carol Dweck, autora do livro Mindset, todo ele dedicado a comprovar como o “dom” é muito menos importante do que o esforço contínuo e intencional em aprender.

No Brasil, o empresário/palestrante/humorista Murilo Gun, que ministra um curso de criatividade, criou o lema Hardwork Papai para resumir essa teoria.

Eu lembro que, em 2006, eu assistia às aulas de um MBA em Marketing Digital na empresa do Murilo lá no Recife.

Enquanto estava todo mundo prestando atenção na aula, ele estava com a cara enfiada no Palm Top estudando como fazer rir e escrevendo seus primeiros roteiros de stand up comedy.

Pouco tempo depois, ele migrou com sucesso de uma carreira em tecnologia da informação para o humor. Hardwork, papai.

Então, se você acredita que não é uma pessoa criativa e inovadora, que não tem nenhum talento ou dom especial, está no lugar certo.

Nos próximos parágrafos, vamos desconstruir os elementos da criatividade, entender o processo criativo e ver como você pode aplicá-lo na sua vida por meio de técnicas e ferramentas específicas.

Os 5 elementos da criatividade

Como ser criativo - 5 elementos

No livro The Innovator’s DNA: Mastering the Five Skills of Disruptive Innovators, os autores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton Christensen afirmam que a criatividade é composta de cinco elementos.

Se você quer saber como ser criativo e inovador no trabalho e na vida, precisa dominar o seguinte:

1. Associação

Richard Branson, multibilionário inglês dono do grupo Virgin, é conhecido por fazer dinheiro em setores tão diferentes quanto música, aviação, vestuário, biocombustíveis, Fórmula 1 e até viagens aeroespaciais.

Para todas as suas empresas, ela leva o mantra ABCD: “Always Be Connecting Dots” (Sempre fique ligando os pontos)

Uma das melhores maneiras para aprender como ser criativo é justamente levando os conhecimento de uma área para outra.

O que vocâ aprende no videogame pode ser levado para a sua profissão. O que você vê em um seriado pode ser aplicado para resolver um problema. Uma teoria matemática pode ser aplicada na sua própria saúde.

Ser crativo é sobretudo a capacidade de fazer conexões não óbvias. Tudo é questão de ligar os pontos, de combinasr as chamadas ideias fusíveis.

Você já parou para se perguntar o que é criatividade?

Maria Popova, do BrainPickings, tem o seguinte conceito de criatividade: a habilidade de conectar o que não está conectado.

2. Questionamento

“Vaguei pela zona rural a procura de respostas a coisas que não entendia. Por que o trovão dura muito mais tempo que o que o causa, e por que, imediatamente após em sua criação, o raio fica visível ao olho enquanto trovão exige mais tempo para viajar. Como se formam os vários círculos na água golpeada por uma pedra e por que um pássaro se sustenta no ar. Estas perguntas e outros fenômenos estranhos passaram em minha mente ao longo de minha vida.” ~ Leonardo Da Vinci

Quase todas as crianças são taxadas como “altamente criativas”. Até um menino pequeno sabe como ser criativo em sala de aula.

Pablo Picasso dizia que todas as crianças nascem artistas. No entanto, apenas poucos adultos são classificados como “altamente criativos”.

O que acontece no meio do caminho? Como deixamos de ser criativos com o passar do tempo?

Uma teoria é que paramos de fazer tantas perguntas.

Perdemos nossa curiosidade pelo mundo, em parte por conta do sistema educacional que pune o erro com a temida nota zero.

Há algo menos criativo do que uma questão de múltipla escolha?

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Pessoas altamente criativas estão sempre questionando tudo, como uma criança, sempre tentando descobrir os porquês atrás dos porquês.

No livro Você está louco – Uma vida administrada de outra forma, Ricardo Semler credita boa parte do sucesso de seus negócios ao hábito de testar suas ideias criativas com uma sequência de três porquês.

Se a ideia sobreviver ao teste, provavelmente é boa para ser aplicada.

Como Albert Einstein resolvia problemas

Já na biografia de Albert Einstein, o autor Walter Isaacson conta uma passagem em que perguntaram ao cientista como ele resolvia problemas.

Einstein então respondeu que, se tivesse uma hora para resolver um problema e sua vida dependesse disso, ele passaria 55 minutos definindo a pergunta certa a fazer.

“Quando eu soubesse a pergunta correta, poderia resolver o problema em menos de cinco minutos”, disse Einstein.

E quem somos nós para discordar?

3. Observação

Como ser criativo

O terceiro elemento sobre como ser criativo é observar além do que está posto à nossa frente. É ler nas entrelinhas, é ver através do que está posto.

No excelente seriado Sherlock, da BBC, o famoso detetive várias vezes repreende o Dr. Watson porque ele vê, mas não observa. E assim deixa passar os detalhes que resolvem os crimes.

4. Relacionamentos

Aristóteles definiu o homem como um animal social, já que nenhum de nós existe isoladamente.

Somos sempre parte de um todo, apesar de termos aquele desejo de autonomia à la Robinson Crusoé.

Uma forma de tentarmos equilibrar esse desejo de autonomia renascentista com a necessidade de socialização aristotélica é buscarmos a companhia de outras pessoas que pensem da mesma forma que nós.

Nada mais natural para nos colocar em nossa zona de conforto.

O problema é que conviver somente com pessoas que pensam como nós mesmos acaba minando a nossa criatividade.

Passamos a enxergar o mundo apenas com aquela visão, quando a solução para um problema pode estar logo no lado oposto.

Algoritmos como o do Facebook, que apresentam em nossa timeline somente o que a máquina aprende que nos interessa, piora ainda mais a situação.

Como ter criatividade se você só tem contato com uma única visão de mundo?

A solução é você buscar relacionar-se também com pessoas que pensam de maneira completamente diferente que você.

Isso pode ser feito diretamente ou mesmo indiretamente, lendo livros de autores de cujas ideias você discorda, vendo vídeos de pessoas que você detesta, escutando podcasts que defendam posições que você abomina.

Ao final deste post, você vai poder baixar gratuitamente um bônus com 21 livros sobre como ser criativo, incluindo biografias de pessoas altamente criativas.

O ponto aqui é abrir sua mente para captar de outras pessoas insumos que podem servir para alimentar a sua própria criatividade, que podem ampliar a sua visão de mundo.

5. Experimentação

Empresas como Google, Linkedin e Apple permitem que seus funcionários dediquem até 20% do seu tempo de trabalho a experimentos pessoais.

É um tempo livre para pirar, experimentar, testar novas ideias criativas, que podem ou não vir a gerar novos produtos.

Se gerarem, ótimo. Se não, a própria atividade de fomentar a inovação já cumpriu seu objetivo.

Poucos de nós teremos essa possibilidade no trabalho, no entanto nada impede que intencionalmente dediquemos algum tempo livre nosso para experimentar ideias novas.

A criatividade não é uma virtude que nos faz inventar coisas criativas pra fazer do nada, mas uma habilidade que nos faz apostar em coisas aparentemente sem utilidade, nem que seja só pelo prazer de experimentar.

O problema aqui é que somos educados a evitar os erros. Assim, acabamos com medo de nos expormos ao ridículo.

Poucas pessoas têm a coragem de se colocar intencionalmente em situações nas quais sabem que vão falhar.

Abraçar o erro é uma importante parte do processo criativo. Vamos, então, a ele.

O processo criativo

O processo de como ser criativo

Agora que você já sabe que ser criativo é muito mais habilidade do que dom, já pode parar de dividir as pessoas entre criativas e não-criativas, especialmente se você costuma se colocar no segundo grupo.

O professor Charles Watson lembra que é preciso haver a presença de “não-criatividade” para que a criatividade seja percebida ou pensada assim.

Colocando de outra forma, criatividade implica obrigatoriamente a existência de limites.

“Picasso só foi Picasso porque ele lidou com limites absurdos! Os limites dele eram muito piores do que ‘prazos’ ou ‘grana’ ou ‘público’. Picasso lutou contra toda a história pregressa da arte. E foi justamente essa camisa de força que fez com que ele fosse tão genial” ~ Professor Charles Watson

Na definição de criatividade de Walt Disney, a inovação é como ginástica: quanto mais você se exercita, mais forte fica.

A questão é que você não pode comparar a sua criatividade à de Disney, Picasso ou Van Gogh.

Você tem que comparar a sua criatividade hoje com a sua criatividade ontem, e assim observar se está evoluindo.

Mas como desenvolver a criatividade?

Adotando um processo estruturado de criação

A melhor forma para isso é adotar um processo criativo.

Esqueça a ideia de que a inovação vem de uma iluminação momentânea: mesmo os grandes nomes possuem um processo estruturado que seguem para realizar suas criações.

No livro Creativity, Innovation, and Quality, Paul Plsek enuncia três pilares para o processo criativo:

  1. Atenção: a fase em que você se concentra na situação atual, utilizando principalmente o elemento da observação.
  2. Fuga: quando você escapa do pensamento convencional para mudar aquela situação, utilizando perguntas, associação e os pensamentos de outras pessoas.
  3. Movimento: a etapa na qual você experimenta as soluções imaginadas, sem medo de errar ou de passar por ridículo.

Você pode começar a testar esse processo criativo estruturado por si próprio, pegando algum problema atual da sua vida ou do seu trabalho e buscando uma solução para ele seguindo esses três passos.

Quanto mais praticar, melhor ficará nisso.

A seguir, vamos listas as melhores técnicas e ferramentas para você saber como ser criativo.

Como ser criativo mesmo sem talento: as 12 melhores técnicas e suas ferramentas

Como ser criativo - Ferramentas

Abaixo, separei algumas técnicas sobre como ser criativo, encontradas em livros e vídeos sobre o assunto.

Quando possível, listei ferramentas que ajudam a operacionalizar essas técnicas.

1. Explorar o seu cansaço

Se você é uma pessoa matinal, pode acreditar que a hora mais criativa do seu dia é a manhã, certo? Errado.

Segundo a pesquisa Time of day effects on problem solving: When the non-optimal is optimal, o momento mais criativo do seu dia é o oposto ao seu momento mais produtivo.

O paradoxo se explica.

Quando estamos fora do nosso horário mais produtivo, nosso cérebro está menos focado.

Assim, ele consegue considerar uma amplitude maior de ideias criativas. Isso nos dá mais alternativas, mais possibilidades de interpretação, facilitando a criação de soluções.

Em vez do pensamento linear e racional das suas horas mais produtivas, no momento oposto o seu cérebro está mais livre para construir associações, romper limites, imaginar.

Isso explica também porque boa parte dos artistas consegue criar suas melhores peças durante insônias, bebedeiras, viagens tóxicas. Criatividade é a inteligência se divertindo.

2. Observar as crianças

As crianças são as maiores fontes de criatividade e inovação e você pode aprender muito observando-as com atenção.

Se você tem filhos, sobrinhos ou qualquer tipo de acesso pessoal a crianças, experimente brincar com elas.

Caso contrário, você pode se voluntariar para ajudar em escolas ou orfanatos próximos, assim enquanto as crianças te ajudam a ser mais criativo, você também faz sua parte ajudando-as.

Se você não gosta nem de chegar perto de crianças, vá ao YouTube e comece assistir aos vídeos que pais babões fazem de seus bebês “mais criativos do mundo”.

Só ali já dá para aprender muita coisa sobre o significado da criatividade.

3. Consumir entretenimento de qualidade

Saia da rotina de consumir sempre o mesmo tipo de entretenimento, especialmente se ele é formado por programas da televisão aberta ou grandes portais de notícias.

Experimente ler alguns dos maiores clássicos da literatura, assistir a filmes que resistiram ao teste do tempo, ouvir um estilo de música ao qual você não está acostumado.

Uma coisa que faço desde pequeno é ler quadrinhos e acho aquilo ali uma fonte inesgotável de criatividade.

Você também pode se aventurar por museus ou galerias de arte, tudo o que sirva como insumo para o seu cérebro posteriormente encontrar soluções criativas.

Ferramentar para consumir entretenimento de qualidade:

  • Série 1001: a Editora Sextante publica no Brasil uma série de livros 1001 coisas para fazer antes de morrer. Eu comprei o 1001 filmes, 1001 livros e 1001 discos, mas existem vários outros. Ali você tem uma excelente lista para consumir entretenimento de qualidade, mesmo sem ver todos.
  • Comixology: o Comixology é um aplicativo/loja da Amazon voltado exclusivamente para quadrinhos. Você pode instalar o aplicativo no seu smartphone, tablet (melhor experiência) ou computador e depois baixar ou comprar alguns exemplares. A experiência de leitura é fantástica, melhor até do que revistas físicas.

4. Combinar ideias antigas

A associação é um elemento da criatividade que vale a pena treinar diariamente.

Para isso, você precisa primeiro criar volume, consumindo entretenimento de qualidade e se relacionando com pessoas que pensam de maneira diferente da sua.

Depois, quando se deparar com um problema, experimente conectar ideias de áreas que não têm nada a ver com a situação enfrentada.

Ferramentas para combinar ideias antigas:

  • Evernote: para combinar ideias, você precisa primeiro ter uma grande caixa de referências. E a melhor ferramenta para isso é o Evernote. Crie uma conta gratuita no site, baixe o aplicativo para o seu smartphone e principalmente instale a extensão Evernote Web Clipper no seu navegador. Com ela, você vai facilmente capturar qualquer página ou trecho de página que você visitar na internet e que puder servir como insumo no futuro. O mesmo vale para fotos tiradas no smartphone. Tudo vai para o seu repositório no Evernote, que pode depois ser pesquisado facilmente.
  • Pinterest: o Pinterest é outro repositório de ideias que você pode começar a construir a partir de hoje. Este é mais voltado para imagens e referências visuais. Instale a extensão para o navegador e você poderá pinar qualquer imagem que encontrar pela web, criando painéis de referências que vão ajudar muito no futuro.

5. Questionar tudo e todos

Como ser criativo - Questionar

Dubito, ergo cogito, ergo sum: “Eu duvido, logo penso, logo existo”, concluiu o filósofo René Descartes após duvidar da sua própria existência.

Sua curiosidade talvez não precise chegar a esse nível, porém se você quer ser mais criativo pode começar a fazer perguntas criativas.

Precisa questionar como as coisas funcionam, perguntar os porquês, duvidar do que parece sólido e certo.

Se você aceita a realidade como ela está posta, sem questionar nada, não há como aumentar a criatividade.

Platão dizia que a criatividade está ligada ao apetite voraz por conhecimento. Então, quanto mais curioso você for, mais criativo tende a ser.

Ferramentas para questionar tudo e todos:

  • Teste dos 3 Porquês: diante de determinada situação, faça como Ricardo Semler e veja se uma ideia resiste a três porquês consecutivos.
  • O que Buda faria?: essa técnica consiste em pegar emprestado o pensamento dos outros. Quando estiver diante de um problema, você pode pegar alguma pessoa cujas ideias você conhece e ver como essa pessoa resolveria a questão. O que Jesus Cristo faria? O que Einstein faria? O que meu chefe faria? Perguntas como essas podem levar a novas formas de pensar.

6. Parar de reclamar

A reclamação pode ser entendida como o oposto da criatividade, pois quando você reclama está praticamente aceitando uma situação ruim e definindo que a única coisa a fazer é falar mal dela.

É praticamente o contrário de questionar.

Em vez de reclamar, você pode praticar intencionalmente o exercício de buscar uma solução criativa para o problema do qual você estava se queixando. Basta seguir os três passos do processo criativo acima mencionado.

Ferramentas para parar de reclamar:

  • Days Without: esse aplicativo para iPhone simula aquelas placas de “X dias sem acidentes” que vemos na construção civil. Instale-o e deixa ele começar a contar quantos dias você fica sem reclamar. Quando você reclamar, basta clicar no aplicativo que ele reinicia a contagem. Você vai perceber que é muito difícil passarmos mesmo meros dois dias sem nos queixarmos.
  • Meditação: a meditação nos moldes tibetanos treina a mente para se posicionar com equanimidade, sem apego ou aversão. Não é algo que vá resolver sua tendência à reclamação de um dia para o outro, mas com a prática você passa a enxergar as coisas de outra maneira. Procure um bom professor para isso.
  • Amuleto/Lembrete físico: A ONG “Um mundo livre de reclamações” desafia as pessoas a passarem 21 dias sem reclamar de absolutamente nada. As pessoas que aderem ao desafio utilizam uma pulseirinha roxa com as inscrições “A Complaint Free World”. Quem falhar e acabar reclamando de algo, mesmo que mentalmente, tem que recomeçar do zero. Quando isso acontece, é preciso passar a pulseirinha para outro braço. Você não precisa comprar a pulserinha, mas pode adotar um amuleto que faça às vezes desse lembrete físico.

7. Rabiscar

Sabe quando você está em um aula, não consegue prestar atenção no professor e começa a rabiscar e desenhar no seu caderno?

Sunni Brown, autora de The Doodle Revolution: Unlock the Power to Think Differently, constatou que algumas das grandes mentes da humanidade, de Henry Ford a Steve Jobs, tinham o hábito de rabiscar para estimular a criatividade.

Segundo o livro, rabiscar e pensar de forma visual, como se faz em mapas mentais, pode melhorar a memória e ativar caminhos neurológicos diferentes, levando a novas ideias e soluções.

O que é ser criativo se não ter a capacidade de imaginar primeiro na mente e depois trazer uma ideia para o mundo concreto, nem que seja como um desenho?

Ferramentas para rabiscar:

  • Caderno de notas físico: tudo bem que a tecnologia ajuda em muita coisa, mas para rabiscar o melhor ainda é papel e caneta. Compre um caderno pequeno e leve de notas, que permita ter uma caneta junto, e mantenha-o sempre por perto.
  • Mapas Mentais: sou um grande fã de mapas mentais. Quando tenho que fazer uma prova, produzo de 30 a 50 mapas para cobrir todo o assunto e garanto que é muito mais eficiente do que o sistema de anotações tradicional. Se você juntar isso com memória associativa, consegue passar em qualquer exame.
  • Teste dos 30 Círculos: esse teste foi criado pelo pesquisador BobMcKim e proposto por Tim Brown em sua palestra no TED Creativity and Play. Pegue um papel e desenha 30 círculos nele. Depois, dispare um cronômetro e, em 60 segundos, transforme em objetos a maior quantidade de círculos que conseguir. Por exemplo, um círculo pode virar um sol, outro uma cara sorridente. Crianças conseguem se sair muito melhor no teste, pois elas não ficam se censurando ou pensando demais como os adultos fazem.

8. Distrair-se e mexer o corpo

Focar tempo demais em um problema (ou não solução de um) esgota nossos recursos cognitivos.

Uma saída de como ser criativo nessas situações é dar um passo atrás e ir fazer algo completamente diferente: ler ficção, mudar de ambiente, alongar-se, lavar a louça, caminhar.

Shelley H. Carson, autora de O Cérebro Criativo, defende que uma distração pode promover a interrupção que você precisa para ampliar sua visão e ter novas ideias.

O melhor tipo de distração é o que difere bastante do que você estava fazendo.

Se você estava sentado concentrado no problema, a melhor forma de mudar é mexer o corpo, saindo para uma caminhada, alongamento ou qualquer outro tipo de exercício físico.

9. Escrever pequenos contos

Escrever pequenos textos de ficção é uma excelente maneira de saber como ser criativo.

Nos Estados Unidos, essa técnica de texto criativo é conhecida como Flash Fiction e existem centenas de grupos online nos quais o desafio é escrever contos com até 100 palavras.

Tenho praticado há algum tempo no meu blog pessoal e, se você quiser inspiração para entrar nessa, aí vai o resultado da minha prática:

10. Criar um ambiente estimulante

Empresas como Google e Apple mantêm em suas sedes um ambiente que estimula a criatividade: são mesas de jogos, salas coloridas, comida à vontade, atividades recreativas, tudo que estimule como ser criativo.

Elas não fazem isso por serem boazinhas.

Em uma economia capitalista, as empresas são focadas nos resultados. E diversas pesquisas já comprovaram que o ambiente em que nos inserimos tem papel importante para estimular a criatividade e a inovação.

Não se trata apenas do ambiente físico, mas também da liberdade que os funcionários têm de expor suas ideias sem serem repreendidos, de terem tempo para se dedicar a projetos paralelos, de terem a possibilidade de parar e se distrair quando acharem necessário.

Se o seu local de trabalho está longe disso, você pode no mínimo personalizar a sua mesa de trabalho, colocando lá elementos que estimulem a sua criatividade.

Há quem goste de colocar bonequinhos pela mesa, frases inspiracionais, livros. Até um papel de parede no computador pode ajudar.

11. Viajar

Viajar para lugares diferentes de onde você mora é uma excelente maneira de mudar o ambiente e saber como ser criativo.

A pesquisa Cultural Borders and Mental Barriers: The Relationship Between Living Abroad and Creativity buscou provar cientificamente que morar fora está diretamente ligado ao aumento da criatividade.

É verdade que nem todos têm condições de viajar muito ou de ir morar fora. Mas mesmo aqui você pode usar sua criatividade. Use o YouTube e o Google para conhecer a vida em outros locais e imergir em novas culturas.

Quanto mais diferentes da sua, melhor.

12. Não ter medo de errar

Jean-Paul Sartre filosofou que todos nós estamos condenados a ser livres. Nossa existência vem antes mesmo de nossa essência.

O problema é que toda essa liberdade produz muita angústia. Especialmente quando notamos que nossas ações são um espelho para a sociedade.

Julgamos os outros e os outros nos julgam.

Assim, por ideologia, temos a tendência a pintar um quadro de como deveria ser a sociedade a partir das nossas ações, da nossa visão de mundo.

Tiramos parte da autonomia dos outros enquanto os outros fazem o mesmo conosco.

Esse raciocínio fez Sartre expressar sua mais célebre frase:

O inferno são os outros

A questão é que, para ser mais criativo, você não pode ter medo de errar, de se expor ao ridículo. Na verdade, pode até ter medo (nada mais natural), porém não pode deixar que esse medo interrompa a ação.

Para saber como ser criativo, aceite a falha. Aprenda a gostar dela. Abrace o quão ruim você é em alguma coisa. Tudo isso faz parte do processo.

Dane-se o que os outros vão pensar. Fazendo ou não fazendo, você será julgado do mesmo jeito.

Sartre definia como má-fé mentir para si mesmo, tentando nos convencer de que não somos livres, de que não podemos fazer isso ou aquilo por conta do que os outros vão pensar.

As crianças não têm essa limitação. Por isso, nelas a criatividade é muito mais forte, em regra, do que nos adultos. Você tem que desaprender essas limitações e reaprender sua habilidade criativa.

Não há como ser criativo se você não valorizar suas ideias. Se não tiver liberdade para experimentá-las sem os limites impostos pelas amarras sociais.

A inovação jamais acontece dentro da sua zona de conforto, então é preciso dar-se o direito de errar. É fazendo merda que se abuda a vida.

Ferramentas para não ter medo de errar:

  • Erre em larga escala: gente que sabe como ser criativo tende a ser prolífica, tentando e errando centenas de vezes antes de acertar. Lembre-se do exemplo de Van Gogh, que fez mais de 2 mil obras para acertar como ser criativo só no final da vida. O volume das ideias é importante para que esgotemos as possibilidades comuns e passemos para as mais criativas.
  • Faça algo que nunca fez antes: escolha um dos desafios do Mude.vc. Matricule-se em um curso de algo que você nada sabe. Saia intencionalmente da sua zona de conforto. É difícil, bem difícil, mas pode fazer milagres pela sua criatividade.

Bônus: 21 livros sobre como ser criativo

Como ser criativo - Livros

Apesar do tamanho, este texto é apenas uma pequena introdução de como ser criativo por meio do esforço intencional e repetitivo.

Existem pesquisadores, médicos e professores que dedicam toda uma carreira ao assunto. E produzem livros fantásticos.

Separei 21 deles para quem quiser se aprofundar no assunto. Você pode baixar gratuitamente o PDF clicando aqui.

Não são livros exclusivamente sobre criatividade, mas também biografias de pessoas criativas, histórias de empresas inovadoras e até ideias futuristas.

Espero que a lista te ajude a vencer o desafio de ser mais criativo.

P.S.Se você tem interesse em ser uma pessoa mais produtiva, cadastre-se para receber uma aula especial do curso Planejando Sua Vida sobre viver produtivamente de acordo com seus valores pessoais. Clique aqui para receber a aula do Planejando Sua Vida.

Walmar Andrade

Walmar Andrade é um advogado, programador e jornalista que estuda a relação entre Direito Digital, Tecnologia e Comunicação. Pós-graduando em Direito Digital (UERJ), tem pós-graduação em Direito Legislativo (IMP-DF), MBA em Planejamento, Gestão e Marketing Digital (FECAP-SP) e Master en Comunicación Empresarial (INSA-Barcelona). Escreve também no site walmarandrade.com.br

17 Comments

  1. Walmar, bom dia!

    Muito obrigado pelo ótimo texto e pelas referências.

    Estou com um dilema que não sei se você já passou: Excesso de criatividade (com aplicação prática e alinhado com meus propósitos de vida).

    Tenho ideias demais e aplico fortemente a técnica de elaborar protótipos. Tenho também uma enorme lista de projetos e tarefas “um dia/ talvez”.

    Não tenho capacidade física para implementar todas minhas ideias. Além disso, tenho forte aceitação dentro da empresa (mas não gosto de esperar as etapas intermediárias como reuniões sem processos decisórios ou aplicação prática)

    Como faço para segurar minha ansiedade e o desejo de aplicar ainda mais minha criatividade?
    (atualmente estou tentando distribuir minha criatividade para outros campos da vida, diminuindo um pouco a aplicação no trabalho e no aprendizado – duas áreas que valorizo muito).

    Abraço e muito obrigado

    Responder
    • Escreva suas ideias! Pratique meditação! Compartilhe as ideias com seus amigos!

      Responder
  2. Uau!! Post sensacional!

    Responder
  3. Prezados,

    Passei quase meia hora lendo este artigo, de qualidade excepcional! Aliás, o MUDE vem se superando nos últimos tempo, estão todos de parabéns.

    Walmar, você leva jeito para escrever ficção. Invista nisso!

    Responder
  4. Que artigo massa, cara.
    Valeu mesmo por compartilhar. Muito bom.

    Responder
  5. Trabalho muito bacana, gostei muito e indico!!!!

    Só tive um probleminha não consegui baixar o e-book, mas tá valendo o conteúdo do artigo já foi suficiente.

    Responder
    • Também não consegui baixar os PDFs

      Responder
  6. Parabéns Walmar!
    Me deu ânimo para meus projetos.

    :D

    Amo o Mude.vc ♥

    Responder
  7. Muito bom artigo, to com o Murilo Gun: Uau!!

    Responder
  8. Você tocou em um ponto importantíssimo quanto à criatividade: Não ter medo de errar. As maiores mentes criativas da humanidade tinham essa característica em comum. O erro é aprendizado e os resultados são apenas consequências desse aprendizado.
    Parabéns pelo artigo, Walmar. Conheci o Mude ontem e, sinceramente, estou impressionado pela qualidade.
    Forte Abraço

    Responder
  9. muitos artigos de alta qualidade. Parabéns mude.vc

    Responder
  10. parabéns pelo artigo, percebi que muitos pontos eu já praticava mesmo sem saber,como por exemplo observação e associação.
    obrigado.

    Responder
  11. Este texto me abriu um leque de possibilidades para ser criativa e uma delas que aplicarei será estudar ead- detesto mas o farei para sair da zona de conforto!

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  12. Fiz esta experiência em mim mesmo. Toco guitarra e não me considero ‘talentoso’ nem mesmo ‘criativo’, inclusive em testes de aptidão sempre fui considerado normal e voltado para as áreas técnicas e blah blah blah, mas o que importa: estudei e pratiquei constantemente alguns licks ( frases prontas ) e percebi que após um tempo instintivamente comecei a “associar” um lick ao outro , mas esta associação vinha já com uma certa “transformação” , ié não era simplesmente a junção das frases, mas sim algo no mesmo espírito das frases. Isso foi o primeiro sinal que percebi e ao longo do tempo me surgiram idéias onde o resultado seriam frases totalmente diferentes das que estudei ( inclusive em outros tons ) e que somente eu sabia o porquê. E a grande ironia é que mostrando a conhecidos cheguei até a ganhar elogios como bem criativo. Mas lógico, infelizmente não nasci com os 15% de talento como o Van Gogh e talvez somente com 0.15%, mas está valendo :-)

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    • Boa, Gakki! O importante não é se comparar a Van Gogh ou a qualquer outra pessoa, mas a si mesmo ontem e observar o progresso feito, por menor que seja. Abraços!

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  13. Muito obrigada por nos permitir ler esse artigo. INCRÍVEL!

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  14. Mude.vc esta de parabéns pois nunca vi tanto conteúdo de qualidade em um só lugar, fico Feliz por te encontrado vocês.

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