Há quem acredite que escrever bem é uma espécie de dom. Ou você nasce com esse talento ou estará limitado a escrever mal a vida toda.
Na verdade, escrever é uma atividade como qualquer outra, que com estudo e repetição pode ser aperfeiçoada. Talvez existam sim pessoas que nascem com uma facilidade maior em escrever, mas isso não quer dizer que qualquer pessoa que realmente deseje escrever melhor não possa se aprimorar na técnica.
Se você deseja vencer o desafio de escrever melhor, quem sabe até publicar um livro, precisa treinar a atividade constantemente. De preferência, todo dia. Mesmo que sejam algumas poucas linhas.
Mas como saber se você está evoluindo na sua escrita com o passar do tempo? O ideal seria ter alguma pessoa de confiança que se dispusesse a ler e comentar seus textos, mas há outras maneiras de fazer isso: você pode fazer uma autocrítica ou pode sair publicando seus textos, mesmo que anonimamente, em uma plataforma como o Blogger ou o WordPress.com e pedir a opinião das pessoas na caixa de comentários.
Aqui vão cinco dicas para você experimentar quando estiver fazendo esse exercício:
1. Leia muito
A principal maneira de se tornar um bom escritor é ser um bom leitor.
Por bom leitor entenda-se aquele que lê bons livros, escritos por bons autores, com uma frequência diária.
Você pode focar na, mas não deve se limitar a, sua área de atuação. Se quer escrever um livro sobre informática, por exemplo, leia bons autores da área, mas também busque inspiração em outras fontes técnicas e até mesmo na literatura.
Uma dica certeira é buscar os grandes clássicos, tanto nacionais quanto internacionais, e tentar entender a forma como os grandes autores constroem os seus textos.
Não fique um dia sequer longe de um bom livro e, com o tempo, a qualidade da sua escrita vai melhorar consideravelmente.
2. Não se deixe bloquear
O principal medo de um escritor é a fobia da tela branca.
Sabe quando você abre o seu editor de textos e fica encarando aquela tela branca, com o cursor piscando mas sem nenhuma palavra saindo dos seus dedos?
A melhor maneira de não se deixar bloquear é simplesmente escrever qualquer coisa que lhe vem à mente no momento. Nem que você escreva “Hoje estou sem ideias e não consigo escrever nada, mas…” já terá saído da inércia e começado a escrever.
Siga escrevendo sem filtros, sem bloqueios, sem censura. Não precisa nem se atentar muito a regras gramaticais. Simplesmente escreva o que brotar na sua mente. Talvez nada seja aproveitado em uma futura edição do texto, mas ainda assim você terá praticado o hábito de escrever.
3. Evite repetir palavras
Poucas coisas empobrecem mais um texto do que a repetição de palavras.
Se você está acostumado a ler grandes autores, observará que a maioria deles se esforça em construir textos com poucas palavras repetidas.
Para que isso não seja um bloqueio na sua escrita, você pode escrever normalmente no começo, repetindo as palavras, e depois buscar termos sinônimos quando for fazer uma revisão mais apurada do texto. Durante a edição, substitua as palavras por sinônimos ou veja se há outra forma de dizer o mesmo sem ter que ficar repetindo os mesmos termos a todo parágrafo.
4. Corte os excessos
Durante minha faculdade de jornalismo, realizei uma disciplina chamada Oficina de Textos. O rigoroso professor, provavelmente o mais durão de toda faculdade, exigia que cortássemos todos os excessos de nossos textos.
A cada semana, tínhamos que entregar um texto diferente. Minhas primeiras versões de cada textos tinham cerca de três páginas. Eu imprimia e começava a lembrar do ensinamento do Professor Marconi, repetindo a conhecida máxima de que Escrever é a arte de cortar palavras.
Com a caneta à mão, ia cortando tudo o que não era essencial ao texto. E ia acrescentando referências externas que enriquecessem o meu texto para aqueles que as captassem. No final, cada exercício acabava com no máximo uma página, muitas vezes nem isso.
Um exemplo de conto que entreguei durante a disciplina:
Bela Bela
Isabela tinha somente sete anos de nascida, mas já possuía na língua malícias de mulher feita. Menina outono, subtraía do calendário folhas que sempre caíam no primeiro dia de abril.
Usava apenas a primeira metade do nome para se apresentar. O restante deixava como adjetivo para conquistar. Isa cresceu assim, cultivando ódios sinceros por meio de amores fingidos.
A cada estação, a bela fornecia biscoito de pão-de-ló em uma freguesia diferente.
Namorou Estácio, Rocha, Misael, o General Pedra, Aninha, Ramos, Humbert Humbert, César, outra vez o Estácio, Zé Leiteiro, Esaú e Jacó. Estes últimos, simultaneamente.
Certo equinócio, Isa avistou Rodolfo Augusto. Puxou o espelho para retocar o adultério, lustrou o nariz de madeira e ocultou sob esmalte rubro as unhas repletas de manchas brancas surgidas de seu passado negro.
Pela primeira vez, no entanto, tornou-se agente da passiva em uma oração de conquista. Fitando o desejado, a bela inspirou fundo para declarar seu inédito amor sincero. Sua boca, contudo, não sabia pronunciar verdades.
Nesta semana, o tema era mentira e eu me desafiei a escrever um texto sobre isso que não utilizasse nem uma vez a palavra mentira em si. Fui a um dicionário de sinônimos e encontrei sugestões criativas como “biscoito de pão-de-ló”, que é conhecido como mentira em algumas partes do país, ou “manchas brancas na unha”, que representam mentira na cultura popular.
O dicionário também trazia elementos culturais ligados à mentira, como o primeiro de abril e o boneco Pinóquio. E ao redor dessas ideias eu construí o texto.
Outras coisas ficam implícitas. Você pode calcular a idade da protagonista, já que sabe que ela troca de namorado a cada três meses. Você pode notar a chacota com o tom dramático no final no uso de nome de personagem de novela mexicana. Você pode encontrar referências a famosa personagem Lolita.
5. Escreva sentenças curtas
A forma mais fácil de se enrolar em um texto é escrever frases longas demais.
Quando você começa a intercalar uma frase na outra, enchendo-as de palavras de transição, o risco de se perder é muito grande. E, para o leitor, ler um texto com tantas interrupções e palavras de parada é como andar em uma estrada sem asfalto guiando um carro sem suspensão.
As sentenças curtas também dão ao leitor uma sensação de uma leitura mais rápida. Além das frases, você pode cuidar para que os seus parágrafos também não sejam exageradamente grandes. Para isso, procure separar uma ideia por parágrafo.
Assim como na dica 3, não se deixa bloquear por essa regra: inicialmente escreva sem filtros ou bloqueios, mas durante a revisão atente para o tamanho das frases e parágrafos. Procure separar o máximo que puder e o seu texto ficará bem melhor ao final.
É isso. Utilize essas cinco dicas na sua próxima escrita e observer se a qualidade do texto vai melhorando com o passar do tempo. Quaisquer dúvidas, como sempre, a caixa de comentários está à sua disposição.
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Este é um sonho de muito tempo.vai ser o meu primeiro desafio.Quero , se for possível,toda a orientação.O livro que quero publicar são projetos realizados com crianças nas fases de alfabetização.
Estou bastante feliz com essa oportunidade que vocês estão me proporcionado.
ObrigaDÃO.
NEUZA
Sou muito verborrágica. Nem sou sou escritora e nem o pretendo, mas sinto que me delongo demais em meus comentários. Quero mudar isso. Admiro quem se expressa muito com tão pouco.
Se tem algo que muita gente me dá um “toque” tanto em escrita quanto na fala é a minha mania em ser extremamente extensa, longa, desnecessariamente fatigante. Eu espero mesmo que com essa dica bem mastigadinha sobre “cortar textos” eu consiga evoluir minha escrita. Porque sinceramente, pior do que ter um bloqueio criativo, é estar com a criatividade a mil e a tua escrita é que impede ela de sair, a danada (ó, aqui eu quase repeti criatividade de novo, já começamos bem) acaba virando um bicho mesmo!