Berlim possui restos de um muro que dividiu o mundo. Tem um dos Parlamentos mais famosos do mundo. Tem museus, praças e pontos turísticos como poucas cidades no mundo.
Mas, naquela manhã quente de sexta-feira, com um sol de 30 graus na cabeça, uma mochila de oito quilos nas costas e um cansaço de quem acordou de madrugada, tudo o que eu queria era encontrar um argentino de nome Gallardo.
Esse maldito hermano estava com a chave do apartamento que eu havia alugado via AirBnB para passar o fim de semana em Berlim. Havíamos chegado há poucas horas na capital alemã, vindos diretamente da Holanda, no primeiro Mochilão do Mude.vc.
O combinado é que Gallardo estaria nos esperando com a chave do apartamento ao meio-dia. Fomos do aeroporto direto para lá, mas não havia nenhum cabeludo parecido com o Batistuta nas redondezas. Até arrisquei perguntar a alguns alemães pelo cidadão, mas ninguém havia o visto.
A fome e o mau-humor começaram a bater. Tivemos que sentar na calçada e abrir um saco de Pingo de Ouro que veio desde o Brasil nas mochilas, enquanto pensávamos o que fazer em seguida.
Três horas depois do combinado, eis que chega o homem mais procurado de Berlim. Na verdade, Gallardo era um típico alemão, e não um argentino que queria nos sacanear, como havíamos deduzido pelo nome latino. E era até um alemão gente boa, embora atrasado.
E assim começou a nossa estadia em Berlim, a cidade que “em menos de um século foi humilhada na Primeira Grande Guerra, eleita a capital do Terceiro Reich de Hitler, destruída durante a Segunda Guerra Mundial, fatiada pelas potências vencedoras do conflito, transformada em palanque para um discurso histórico de John Kennedy, dividida por um enorme muro e alçada a ponto de tensão máximo entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria”, como nos ensinam os livros de história.
O que fazer em Berlim
Depois desse atrapalho inicial, teríamos o final de semana inteiro em Berlim, e mais um pedaço da segunda-feira. Precisávamos bolar um roteiro de três dias para conhecer os pontos mais importantes da cidade.
Pensamos que a cidade ainda estaria em festa, pois no domingo anterior a Alemanha havia derrotado a Argentina (chupa Gallardo!) e se tornado tetracampeã, vencendo a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Tive, inclusive, a infelicidade de ver no Mineirão aquela goleada de 7×1 que eles aplicaram na Seleção Brasileira.
Mas tudo o que vimos foram alguns restos da comemoração que foi feita alguns dias antes no Portão de Brandemburgo, o primeiro lugar famoso de Berlim que conhecemos.
O Brandenburger Tor, construído no século XVIII para ser a porta de entrada da cidade, fica bem no centro de Berlim. Como quase tudo de importante na capital alemã, ele foi praticamente destruído na época das grandes guerras, porém há mais de dez anos está completamente restaurado.
Naquele sábado, estava ocorrendo bem em frente ao portão uma festa de confraternização entre França e Alemanha. O mesmo palco que os jogadores da Seleção Alemã usaram para celebrar a Copa de 2014 dias antes agora era ocupado por músicos franco-germânicos, ou algo do tipo.
O lado positivo é que isso reuniu uma pá de gente em frente ao monumento, numa mistura de cerveja e salsichão com crepe e champagne. O lado negativo é que não pudemos ver ou fotografar o portão inteiro, já que a estrutura do palco ficou bem na frente.
Depois de uma cerveja ruim, partimos caminhando para conhecer os arredores. Uma das vantagens de Berlim é que você consegue visitar diversos pontos turísticos a pé mesmo, partindo do centro.
Em um trecho de pouco mais de um quilômetro ao longo da Avenida Unter den Linden (favor ler com o meu sotaque alemão), dá para encontrar pontos históricos de Berlim, como o Reichstag (o Parlamento Alemão), o Deutsche Guggenheim, a Catedral, o Memorial do Holocausto e a famosa “ilha de museus” da cidade.
Antes da ilha, tentamos entrar no Museu Histórico Alemão, mas a atendente gentilmente informou que no dia seguinte, domingo, a entrada era gratuita. O que foi muito útil, pois passamos praticamente metade do domingo dentro desse museu, conhecendo a história da Alemanha desde a era medieval até a construção e derrubada do Muro de Berlim.
Isso significa que você vai encontrar lá desde armaduras medievais até artefatos das duas grandes guerras mundiais, incluindo toda a insanidade do Nazismo, do holocausto e da divisão do país em dois, com a capital murada no meio. Além disso, no Museu estão algumas relíquias com o chapéu e a espada de Napoleão Bonaparte, ou o quadro “A Liberdade Guiando o Povo” (Delacroix), que virou símbolo da Revolução Francesa.
Este foi um dos pontos altos da viagem e recomendo muito a visita.
Outro ponto interessantíssimo é o Memorial do Holocausto, ou Memorial aos Judeus Mortos da Europa. Trata-se de uma área a céu aberto, logo ao lado do Portão de Brandemburgo, onde dezenas de blocos de concreto representando lápides de diversas alturas formam uma espécie de mistura de cemitério com labirinto. Uma bela homenagem a um povo que tanto sofreu nas mãos do Partido Nazista, que tinha justamente em Berlim o seu centro de operações.
O Memorial do Holocausto é relativamente novo em Berlim, tendo sido inaugurado em 2005. A intenção parece ser passar a sensação de confusão e desequilíbrio quanto você anda em meio ao labirinto de blocos de concreto. Para se ter ideia, são quase 3.000 deles espalhados em uma área de 19 mil metros quadrados.
No subterrâneo, há o Ort der Information, uma exposição com informações sobre a perseguição e o extermínio dos judeus pelos nazistas. A exposição mostra detalhes biográficos de vítimas do holocausto.
Depois de um bom tempo no Memorial do Holocausto, seguimos caminhando pelo centro e vimos tantos monumentos que não dou conta nem de listar. O último deles foi a Berliner Fernsehturm, uma torre de TV construída na década de 70 com quase 400 metros de altura. Há um mirante no meio, de onde se vê Berlim inteira, mas infelizmente acabamos não subindo.
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Quero receber a aulaMuro de Berlim hoje
Não poderíamos falar de Berlim sem tratar do famoso muro que dividiu a cidade de 1961 até 1989, quando sua derrubada marcou o final da Guerra Fria.
Na verdade, o que se consegue visitar hoje são os resquícios do muro, que antes circundava toda a Berlim Ocidental capitalista, separando-a da Alemanha Oriental socialista, incluindo a parte oriental de Berlim.
Nosso primeiro encontro com o muro foi na Bernauer Straße, onde foi erguido o Memorial do Muro de Berlim.
Ali você encontra um museu a céu aberto com pedaços do Muro ainda no lugar original, outros pedaços deslocados e mais alguns pedaços sem o concreto, expondo a estrutura de vigas de ferro que davam a sustentação ao muro.
A Bernauer Straße foi a rua escolhida para abrigar o memorial por ter sido uma daquelas que foi interrompida, da noite para o dia, com a construção do muro, separando amigos, parentes e colegas de trabalho. Há relatos de pessoas que se jogaram da janela do apartamento de um lado do muro, tentando cair do outro lado.
A primeira morte oficial relacionada ao Muro de Berlim, inclusive, ocorreu nesta rua, em 22 de agosto de 1961, apenas nove dias depois da construção. No número 48 da Bernauer Straße, Ida Siekmann se jogou da janela do terceiro andar do prédio e se feriu gravemente ao cair na calçada, morrendo mais tarde no hospital.
Essas e outras histórias estão contadas nos totens que ficam no Memorial do Muro de Berlim, que funcionam como uma espécie de áudio-guia gratuito para os visitantes. Lá você encontra também fotografias e lápides em homenagem aos que morreram tentando pular o muro.
Só que o Memorial do Muro de Berlim é apenas um pequeno pedaço da história. Por toda a cidade é possível encontrar outros resquícios da parede.
Do Muro de Berlim original faziam parte 66,5 quilômetros de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para cães de guarda.
Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Socialista, com ordens de atirar para matar aqueles que tentassem pular para a parte capitalista da cidade.
Oficialmente, 80 pessoas foram mortas e identificadas, 112 ficaram feridas e milhares aprisionadas nas diversas tentativas ocorridas durante os 28 anos em que o muro ficou de pé. Esses números, como você deve imaginar, não são nada precisos.
Interessados por toda essa história, no dia seguinte fomos para a chamada East Side Gallery, que é atualmente o mais longo pedaço do muro que continua em pé em Berlim.
Esse pedaço, mais afastado do centro de Berlim, tem 1.300 metros de extensão, praticamente todo grafitado por diversos artistas, com todos os temas que você puder imaginar.
A East Side Gallery fica em uma área descampada, próxima a beira de um rio, onde encontramos uma galera curtindo a maresia e escutando um reggae. Uma área bem diferente do centro turístico que havíamos visitado no dia anterior.
Roteiro de três dias em Berlim para marinheiros de primeira viagem
Com base nessa larguíssima experiência de um final de semana na capital alemã, segue o que acredito ser um bom roteiro de três dias em Berlim para aqueles que visitam a cidade pela primeira vez.
Antes de tudo, procure se hospedar no bairro central de Mitte, próximo às estações Rosenthaler Strasse e Rosa Luxembourg Platz.
O metrô e todo o sistema de transporte público de Berlim é bem funcional, mas ficar perto do centro sempre ajuda. A estação Alexanderplatz é o maior entrocamento de linhas de metrô (lá chamado de U-Bahn) e trem urbano (ou S-Bahn) da cidade. Se você se perder, sempre pode voltar para a Alexanderplatz para recomeçar.
Dito isso, vamos ao roteiro.
Dia 1 – O Centro
Comece visitando o Portão de Brandemburgo, pois é ao redor dele que estão vários dos pontos principais de Berlim.
Com um dia inteiro disponível e um pouco de preparo físico, dá para conhecer todo o centro de Berlim a pé mesmo, incluindo:
- Tiergarten, o maior parque de Berlim
- Reichtag, o prédio histórico que abriga o parlamento alemão (se quiser visitar a cúpula e o terraço, precisa antes se inscrever no site oficial)
- Memorial aos Judeus Mortos da Europa, também chamado Memorial do Holocausto
- Avenida Unter den Linden, que vai do Portão de Brandenburgo até a ponte Schlossbrücke. Ao longo da Avenida, você encontra a Ópera de Berlim, a Universidade Humboldt, os prédios Kronprinzenpalais e Prinzessinnenpalais (Palácio do Príncipe Herdeiro e Palácio da Princesa), o sinistro Memorial Central da República Federal da Alemanha para as Vítimas da Guerra e da Tirania (chamado Neue Wache, ou Nova Casa da Guarda) e o Museu Histórico Alemão
- Ilha dos Museus, localizada logo após a ponte Schlossbrücke, onde você encontra a praça Lustgarten e a Catedral de Berlim, além dos cinco museus que dão nome à ilha: Museu Novo, Museu Pergamon (o mais visitado de Berlim), a Galeria Nacional Antiga e o Museu Bode
- Gendarmenmarkt, uma praça onde se encontram a Casa de Concertos e as Catedrais Francesa e Alemã, que são praticamente idênticas e que ficam uma de frente uma para a outra
Sim, dá para fazer tudo isso a pé e em um dia só, mas claro que não vai dar para entrar em todos os museus e prédios históricos. Você pode escolher dois ou três para entrar e conhecer melhor, sempre controlando o seu tempo.
Algumas opções têm que ser feitas. Eu, por exemplo, entrei no Museu Histórico Alemão, que é gigante, e acabei sem entrar no Pergamon, o mais famoso da cidade…
Dia 2 – O Muro de Berlim
No segundo dia, vá ao Memorial do Muro de Berlim, na Bernauer Straße (indo de metrô, pegue a Linha U8 e desça na estação Bernauer Str).
A visita pode começar pela área aberta e depois seguir para os prédios adjacentes, incluindo:
- Centro para Visitantes, que fica do outro lado da rua, com orientações sobre o memorial
- Centro de Documentação, ao lado do Centro para Visitantes, onde há uma exposição permanente sobre a construção e a história do muro, além de um mirante de onde se pode ver a “faixa da morte”, a torre de observação e postes de luz, todos originais e bem conservados (por isso a entrada é proibida, você só pode ver do mirante)
- Capela da Reconciliação
Todas as partes do Memorial do Muro de Berlim têm acesso é gratuito. As partes fechadas funcionam de terça a domingo, das 9h30 às 19h, nos meses de abril a outubro, e das 9h30 às 18h, de novembro a março. As partes abertas são sempre acessíveis.
Do Memorial, siga para o Checkpoint Charlie, um posto militar que ficava na fronteira entre Berlim Ocidental e Oriental e permitia a passagem de membros das Forças Aliadas e diplomatas estrangeiros. Esse é um dos pontos turísticos mais visitados de Berlim. Para chegar lá de metrô, use a Linha U6 e desça na estação Kochstrasse.
Por fim, se quiser ver o maior pedaço do muro ainda de pé, siga para a East Side Gallery (use a Linha U1 do metrô e desça na estação Warschauer Str).
Dia 3 – Kudamm
No último dia em Berlim, você pode começar pela estação Alexanderplatz – a mais famosa da cidade. De lá, você pode ver o Urania-Weltzeituhr (relógio que mostra a hora de muitos fuso horários), o prédio da Prefeitura de Berlim e a famosa Torre de TV, uma das construções mais altas da Europa.
Se conseguir, suba no mirante da Torre para ter uma visão de 360 graus de Berlim e depois me conte como foi.
Da Alexanderplatz você pode pegar o metrô para a Kurfürstendamm, ou Kudamm para os íntimos, uma das principais avenidas de Berlim.
A Kudamm é uma avenida comercial, onde você vai encontrar desde lojas populares e de departamentos até lojas de luxo. A loja mais famosa é a Kadewe, que fica na Tauentzienstrasse.
Aliás, entre essa rua e a avenida Kudamm você pode ver a “Igreja Quebrada” (Gedächtniskirche), um dos poucos monumentos danificados durante as Guerras Mundiais e que não foi restaurado. Dizem que isso foi intencional, para lembrar aos moradores e visitantes de Berlim sobre os horrores da guerra.
Na Kudamm você também poderá encontrar um restaurante para comer à noite e encerrar a sua visita a Berlim em alto estilo.
(Não que tenhamos feito isso, pois teríamos que rumar para Praga já na manhã seguinte. Mas isso é assunto para outro post…)
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Se vc visitou o Parlamento não tem nada do que se arrepender de não ter subido na torre!
Parabéns pelo post! Está me ajudando e tanto a organizar minha primeira visita à Berlim.
Só uma correção: o Memorial do Holocausto tem 19000 m² e não 19 km², a diferença é bem grande, assustei quando li.
Sucesso!
vivaviaje.com.br
Vívian,
19.000 metros quadrados e 19 quilômetros quadrados não significam a mesma coisa (1.000 metros = 1 km)?
Boa viagem para Berlim, é uma cidade incrível.
Abraços!
Walmar, ótimo texto… me ajudou muito no roteiro da minha viagem.
E só para corrigir, a Vívian está certa, 19 mil m² equivalem a 0,019 km²… lembrando que estamos trabalhando com unidade de área e não linear: 1 km = 1000 m, 1 km² = (1000m)x(1000m) = 1.000.000 m²!!!
Abraços
Verdade, corrigi lá. Nunca fui bom de matemática :P
O Rodrigo explicou aí embaixo: a conversão de área não é igual a conversão linear. Corrigi no texto. Obrigado, Vivian!
Olá, Walmar! Ótimo texto!
Você acha que vale à pena comprar o Berlim Welcome Card? Você usou muito metrô durante sua visita ou conseguiu fazer bastante coisa à pé?
Estou indo à Berlim em Novembro e vou ficar 3 dias completos (chego 12h do dia 9/11 e saio 7h do dia 13/11), hopedada em Rosa-Luxemburgo e estou na dúvida se compro o ticket pois é bem caro. Como o hostel é no centro, estou pensando em visitar tudo à pé mesmo, se possível… Você acha que dá?
Obrigada
Oi Tássia,
Não comprei o cartão não… fiz muita coisa a pé, mas de vez em quando usava o metrô e acabava pagando o ticket avulso mesmo (Não sei se no final das contas não acabou saindo mais caro…).
Abraços e boa viagem!