Quando eu tinha uns 10 ou 12 anos de idade, a mãe de um amigo me chamou para ir ao teatro assistir a uma peça chamada O Diário de Anne Frank.

Eu, que nunca havia ouvido falar em tal diário, achei que se tratava de uma peça infanto-juvenil. Tipo O Diário de um Banana.

Umas duas horas depois, lembro de chegar em casa tremendo, assustado, sem conseguir dormir direito.

Eu havia sido apresentado, sem nenhuma preparação, a uma das mais impressionantes histórias da Segunda Guerra Mundial.

Aquela peça foi meio que um trauma de infância.

E eu nunca tive interesse (coragem?) de ir atrás do Diário e ler o que Anne Frank escreveu entre 1942 e 1944, quando ficou escondida com a família em um anexo do escritório de seu pai durante a ocupação nazista em Amsterdã.

Isso mudou em 2015, quando eu fui ao local, entrei no mesmo anexo e, na saída, finalmente comprei uma edição de O Diário de Anne Frank.

O Diário de Anne Frank: um resumo da história para quem não a conhece

Amsterdã - Anne Frank

Anne Frank era uma criança alemã de família judaica que, aos 13 anos, teve que se esconder com os pais, a irmã e outros judeus em um anexo secreto no prédio onde o pai trabalhava.

Lá eles ficaram escondidos por dois anos inteiros, até agosto de 1944. Faltando um ano para a guerra acabar, os nazistas descobriram o esconderijo.

Todos os que lá estavam foram presos e enviados para campos de concentração.

Anne Frank foi enviada ao campo de Bergen-Belsen, onde morreu em fevereiro de 1945, com apenas 15 anos. Três meses depois, os alemães se renderam.

Durante o tempo em que ficou escondida, Anne Frank escreveu um Diário contando o seu dia-a-dia no anexo secreto.

O Diário de Anne Frank é um relato de adolescente. Porém de uma adolescente submetida a condições extremas, no período mais difícil da adolescência, tendo que não apenas se esconder, mas também que dividir um pequeno espaço com familiares e estranhos.

Quando o escondreijo foi descoberto pelos nazistas, os moradores do anexo foram todos levados. Mas o Diário ficou para trás.

O traidor

Até hoje se especula como os nazistas descobriram o esconderijo. Historiadores afirmam que alguém que conhecia o Anexo Secreto traiu os moradores e contou aos alemães. Mas a identidade do traidor nunca foi confirmada.

O que foi confirmado é que todos os que estavam no esconderijo morreram em campos de concentração. Menos um: Otto H. Frank, o pai de Anne, a quem o Diário foi entregue logo após a confirmação da morte da menina.

Em 1947, o pai decidiu publicar O Diário de Anne Frank. Desde então, a obra foi traduzida para mais de 70 idiomas e dezenas de milhões de cópias foram vendidas.

As páginas originais estão expostas no anexo secreto, em Amsterdã, que foi transformado em um museu conhecido como Casa de Anne Frank.

O museu conhecido como Casa de Anne Frank

Casa de Anne Frank - Museu

Se algum dia você for a Amsterdã e perceber uma enorme fila nas imediações do centro da cidade, pode ter quase certeza que está perto do museu conhecido como Casa de Anne Frank.

Inaugurado em 1960, o lugar tornou-se uma das atrações mais visitadas de capital holandesa. Para entrar, é preciso ou esperar horas na fila ou comprar com bastante antecedência um ingresso pela internet.

Há uma terceira opção, mas essa é apenas para os sortudos. Encontrar na internet, pouco antes do horário de entrada, um ingresso de alguém que tenha desistido.

Foi justamente o que aconteceu comigo. E que me fez conhecer o lugar que tanto havia me assustado na montagem teatral décadas atrás.

O museu é fantástico. Conhecer as histórias que se passaram ali, ao mesmo tempo em que se nota o quão apertado o espaço é, dá uma noção do terror que deve ter sido viver escondido ali por mais de dois anos.

Várias páginas originais do Diário de Anne Frank estão expostas lá, assim como fotografias, roupas e outros objetos que puderam ser recuperados.

O que mais me chamou atenção foi uma parede onde Otto Frank marcava com caneta o crescimento das filhas.

É um dos lugares mais impressionantes e, ao mesmo tempo, mais tristes que você pode conhecer.

A “verdadeira” Casa de Anne Frank

Verdadeira Casa de Anne Frank

Em outro lado da cidade, pouquíssimo conhecido pelos turistas, é possível encontrar a “verdadeira” casa de Anne Frank.

O local onde O Diário de Anne Frank foi escrito não era exatamente a casa dela. Era o lugar onde a menina se escondeu dos nazistas.

Mas onde ela morava?

Em um apartamento no Rivierenbuurt (“bairro dos rios”, em holandês).

Esse bairro de classe média, mais afastado do centro, recebeu diversos judeus que migravam para a Holanda. Entre eles, a família Frank.

Anne Frank e seus pais eram alemães. No entanto, eles migraram para a Holanda quando Anne tinha uns 5 anos, já fugindo das manifestações antissemitas que cresciam com a ascensão do Partido Nazista ao poder.

Saindo da cidade natal Frankfurt, eles (e muitos outros judeus) foram para Amsterdã e se instalaram no Rivierenbuurt.

Dos quase 20 mil judeus que lá moravam na época da ocupação alemã, apenas quatro mil sobreviveram ao final da Segunda Guerra.

O Diário de Anne Frank - Placas dourada
Por isso, hoje em dia, é possível encontrar nas calçadas do bairro várias pequenas placas douradas com os nomes de judeus que foram assassinados.

Essas placas ficam em frente às casas de seus antigos moradores. E foi por elas que eu achei o apartamento onde moravam Anne Frank, seu pai Otto, sua mãe Edith e sua irmã Margot.

O apartamento

https://www.youtube.com/watch?v=qyFW7GMqcdI

Trata-se de um apartamento normal, não aberto para visitação pública, onde hoje funciona uma ONG que recebe escritores refugiados de outros países.

Acima você pode ver o único registro em vídeo de Anne Frank, justamente no apartamento de Rivierenbuurt.

Andando pelo bairro, você também pode encontrar a livraria Jimmink, o lugar onde o pai comprou o caderninho vermelho-xadrez que viria a se tornar O Diário de Anne Frank.

Também é possível ver a escola onde Anne Frank e a irmã estudaram. E, no meio disso tudo, se deparar com uma pequena estátua da adolescente.

O passeio por Rivierenbuurt não é tão informativo quanto o do museu oficial, mas lá você pode ter uma ideia melhor de como era a vida de Anne Frank antes da ocupação alemã.

Vale a pena ler O Diário de Anne Frank?

Estátua de Anne Frank

Embora seja um dos livros de não ficção mais importantes de todos os tempos, O Diário de Anne Frank não é exatamente uma obra agradável de ler.

Primeiro, por não se tratar de algo que foi escrito para ser lido.

O Diário de Anne Frank era, como todo diário adolescente, uma expressão privada dos pensamentos da jovem. Ela mesma escreve, nos primeiros dias, que nunca deixaria alguém ler aquilo.

Além disso, a obra é baseada em sofrimento, sem romantismo, em um dos períodos mais horrendos da história da humanidade.

Para uma garota de 13 anos, Anne Frank escreve extremamente bem. Historiadores contam que o pai dela incentivava as filhas a ler desde cedo, o que pode explicar a boa escrita.

Ainda assim, é uma menina de 13 anos. E o diário traz todas as particularidades de uma escritora dessa idade. Ela é contraditória, por vezes irritante, por vezes assustada, outrora esperançosa.

Ela fala sem filtros o que pensa das pessoas com quem foi obrigada a conviver, não poupando nem os próprios familiares.

Como toda adolescente, ela também se apaixona e até relata seu primeiro beijo, que acontece dentro do próprio esconderijo.

Em resumo, é uma obra diferente de qualquer outro livro que você vá ler.

Se preferir conhecer uma adaptação da história em si, procure pelo filme O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank), de 1959, que faturou três Oscars ao contar a história da jovem.

Embora ler o diário não seja uma obrigação, conhecer a história da mulher que deu um rosto aos milhões que morreram durante o Holocausto é absolutamente fundamental.

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Walmar Andrade

Walmar Andrade é um advogado, programador e jornalista que estuda a relação entre Direito Digital, Tecnologia e Comunicação. Pós-graduando em Direito Digital (UERJ), tem pós-graduação em Direito Legislativo (IMP-DF), MBA em Planejamento, Gestão e Marketing Digital (FECAP-SP) e Master en Comunicación Empresarial (INSA-Barcelona). Escreve também no site walmarandrade.com.br

2 Comments

  1. Obrigada por postar tão rica experiencia .

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    • obrigado por explicar uma historia tao iritante de se ler gostei bastante do resumo ao contrario do livro

      Responder

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