Há algo de podre no reino da Dinamarca: a capital é pequena demais!
Depois de três dias em Copenhague, o mochilão do Mude.vc decidiu que era hora de explorar as redondezas da ilha da Zelândia.
Uma rápida pesquisa no Google e descobrimos que estávamos a poucos minutos de trem do famoso Castelo de Elsinore, o lugar onde William Shakespeare sitou uma de suas mais famosas peças, Hamlet.
Elsinore, na verdade, é a versão latinizada de Helsingor, uma cidadezinha de cerca de 60 mil habitantes que fica no extremo da Dinamarca, a uma barca de distância da Suécia.
Nessa cidadezinha estrategicamente localizada, existe o Castelo de Kronborg, uma fortaleza construída pela família real da Dinamarca para proteger o país dos ataques vizinhos.
Toda essa parte é verdade, é história.
A partir daí, Shakespeare inventou a estória de Hamlet, o Príncipe da Dinamarca. E fez a fama do castelo, tanta que muita gente chega lá achando que Hamlet é, na verdade, um personagem histórico, real.
A peça é uma das mais famosas de todos os tempos, sendo leitura obrigatória em vários países de língua inglesa e tendo servido de inspiração para centenas de outras histórias, como O Rei Leão, por exemplo.
Continue lendo para saber mais sobre:
- Como chegar a Helsingor
- A história de Hamlet dentro do Castelo de Kronborg
- A experiência de passar por túneis medievais e encontrar um grande herói dinamarquês
- O que fazer em Helsingor além do castelo
Você poderá ver também o pequeno vídeo que o Mude.vc produziu visitando o Castelo de Hamlet e explorando os túneis onde fica a famosa estátua de Ogier, o Dinamarquês.
Como chegar a Helsingor
Até viajar para a Dinamarca, eu nem sabia da existência de Helsingor.
Só tomei conhecimento da existência da cidade quando “esgotei” os pontos turísticos de Copenhague em menos dias do que o previsto que comecei a pesquisar o que fazer nos arredores da capital dinamarquesa.
Mas chegar lá, partindo de Copenhague, é extremamente simples. Basta pegar um trem que sai de hora em hora de praticamente qualquer estação e menos de 45 minutos depois você já está em Helsingor.
Saindo da estação lá na cidadezinha, não é preciso nem mapa. O local é muito pequeno e todos os caminhos levam ao Castelo de Kronborg.
Mesmo caminhando bem devagar e parando para tirar fotos, levei menos de 15 minutos da estação até o castelo.
Resumo da história de Hamlet dentro do Castelo de Kronborg
Você se lembra da história de Hamlet, o Príncipe da Dinamarca? (SPOILER alert!)
Ela começa a partir da morte do Hamlet pai, então Rei da Dinamarca, que foi morto envenenado pelo próprio irmão, Cláudio, enquanto o reino travava (mais uma) guerra contra a Noruega.
Não satisfeito em matar o irmão, Cláudio ainda se casa com a viúva, Rainha Gertrudes, e se torna o novo Rei da Dinamarca.
A primeira cena da peça se passa justamente no Castelo de Kronborg, chamado por Shakespeare simplesmente de Elsinore (a forma latinizada de Helsingor). Nela, um guarda do castelo chamado Horácio afirma ter avistado o fantasma do Rei morto.
O fantasma revela que foi Cláudio quem matou o Rei Hamlet. Horácio, então, conta a história para o Hamlet filho, o Príncipe da Dinamarca, que, a pedido do fantasma, resolve vingar o seu pai e matar o tio, o novo Rei Cláudio.
O problema é que a ideia de assassinar alguém começa a consumir Hamlet, o seu comportamento estranho chama a atenção de outras pessoas no castelo. Ele chega a duvidar se foi realmente Cláudio quem matou seu pai.
Entre essas pessoas, estão Polônio, conselheiro do Rei Cláudio, e seus dois filhos, Laertes e Ofélia.
Polônio acredita que Hamlet está apaixonado por Ofélia e que isso explica o seu comportamento estranho. A verdade, como mostra a peça depois, é que era Ofélia que estava apaixonada pelo príncipe.
A história tem uma reviravolta quando uma trupe de artistas chega ao Castelo de Helsingor. Hamlet tem a ideia de encenar uma peça na qual o assassinato do Rei seja recontado.
Com isso, ele pretende observar o comportamento do tio Cláudio e assim definir se ele é culpado ou inocente.
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Quero receber a aulaNão dá outra. Na hora em que a peça mostra o Rei sendo morto pelo irmão, Cláudio “muito pálido, ergue-se cambaleante” e Hamlet conclui que ele é realmente o assassino.
Revoltado com a atitude do Príncipe, Cláudio decide banir Hamlet da Dinamarca para a Inglaterra acompanhado de dois guardas, que tinham como missão matá-lo.
Porém, a Rainha Gertrudes decide intervir e chama Hamlet em seu quarto para tirar satisfações. Quando se dirigia ao quarto da Rainha, no meio do castelo, Hamlet encontra-se com Cláudio rezando, distraído.
Em uma das cenas mais emblemáticas de Shakespeare, Hamlet hesita em matar o tio e rei, pois raciocina que o enviaria ao céu, já que ele estava orando.
Chegando ao quarto da rainha, Hamlet discute fortemente com a mãe e, no meio da briga, percebe um homem escondido atrás das cortinas.
Pensando ser Cláudio, Hamlet dá uma estocada com a faca através da cortina, porém descobre que acabou matando Polônio, conselheiro do rei e pai de Ofélia, a mulher que o amava.
O Rei Cláudio, então, convence o filho de Polônio, Laertes, de que Hamlet é o único culpado pela morte de seu pai e pela tristeza de sua irmã. Ele sugere que Laertes desafie Hamlet para um duelo e, só para garantir, que use uma espada com a ponta envenenada.
Aliás, para garantir mais ainda, o Rei Cláudio informa que ao vencedor será oferecida uma taça do melhor vinho. Envenenado, claro.
Como desgraça pouca é bobagem, justo na hora do duelo o exército da Noruega chega a Helsingor e cerca o castelo.
Mesmo assim, Hamlet e Laertes começam sua luta de espadas, cada um querendo vingar a morte do pai morto.
No meio da cena, a Rainha Gertrudes toma por engano a taça de vinho envenenada e morre.
Na confusão, Hamlet e Laertes trocam de espadas e o Príncipe acaba ferindo seu oponente com a lâmina envenenada.
Ao perceber que estava morrendo, Laertes revela que o Rei Cláudio é o verdadeiro culpado de toda a tragédia que se abatia no castelo. Ambos se perdoam.
Mesmo ferido, Hamlet ainda tem tempo de atacar Cláudio. O golpe de espada não é suficiente e ele acaba forçando o tio a também beber do vinho cheio de veneno.
Enquanto os soldados noruegueses conseguem invadir o castelo, Hamlet morre, dizendo “O resto é silêncio”.
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Hamlet no Castelo
Essa história é épica. Shakespeare trata indiretamente de assuntos delicados, como ética, loucura e vingança.
Confesso que eu esperava ver no Castelo muitas e muitas referências à peça, mas na verdade o Castelo de Kronborg é um castelo real (com todo o duplo sentido aqui), então o que vemos lá são as histórias dos verdadeiros reis e príncipes que por lá passaram.
Isso é meio frustrante, pois o acervo lá não é dos mais atraentes quando comparado com outros castelos europeus.
O único lugar onde há muitas referências a Hamlet é na lojinha, que se farta de vender livros nos mais variados idiomas, a caveirinha do “Ser ou não ser, eis a questão”, espadas “envenenadas” e tudo o mais.
Se essa “falta” de Hamlet deixa a experiência no castelo um pouco abaixo do esperado, existe outro herói que salva a viagem a Helsingor…
A experiência de passar por túneis medievais e encontrar um grande herói dinamarquês
A melhor parte da visita ao Castelo de Kronborg, na minha opinião, é a passagem pelos túneis que serviam como rota de fuga.
Como eu disse, Helsingor fica apenas a uma barca de distância do que hoje é a Suécia. Um simples barco consegue atravessar o Mar Báltico em poucos minutos.
Esses países nórdicos, apesar da fama de civilizados que possuem hoje em dia, passaram boa parte da sua história em guerra.
Nada mais necessário, então, do que uma rota de fuga subterrânea no Castelo onde reis e rainhas passavam temporadas. Chegou um viking invasor? Corre todo mundo para os túneis para fugir.
Passar pelos escuros e úmidos túneis já estava sendo uma experiência interessante, mas eis que no meio do caminho eu me deparo com isso:
Se você é fã de Game of Thrones como eu, já deve ter pensado se não se trata da tumba de algum Stark nos subterrâneos de Winterfell. Mas isso não é uma lápide, e sim um herói dinamarquês.
Conheça Holger, o Dinamarquês!
Reza a lenda que Holger é filho do Rei Godofredo da Dinamarca. Tendo seu filho assassinado por Carlos, O Jovem, Holger partiu em busca de vingança e matou Carlos, o Jovem, e quase matou também o famoso Carlos Magno.
Depois de sete anos de luta, acabou se aliando ao antigo inimigo para proteger o país da invasão sarracena, quando teria matado o gigante Brehus.
A lenda na Dinamarca é que Holger foi descansar nos túneis do Castelo de Kronborg e está lá até hoje.
No dia em que a Dinamarca estiver em perigo de morte, Holger Danske levantar-se-á e libertará o país de seu destino trágico!
Uma curiosidade: sabe o Valete de Espadas, aquela carta do baralho que em português vem com a letra J? A figura lá, normalmente, é a de Holger, por conta de sua relação com Carlos Magno (que estampa o Rei de Copas).
Baralhos à parte, o fato é que a inesperada estátua no meio dos túneis subterrâneos é imponente e só ela já vale a visita a Helsingor.
Mas ainda há outras coisas a fazer na cidade…
O que fazer em Helsingor além do castelo
Helsingor é uma pequena cidade portuária, então não há muito o que fazer além de ver o Castelo de Kronborg.
Isso não significa que não há nada o que fazer.
A segunda maior atração da cidade é o Museu Marítimo da Dinamarca (Danish Maritime Museum ou M/S Museet for Søfart), que antes ficava no próprio castelo, mas que desde 2013 ocupa uma grande área subterrânea perto do porto.
Os países nórdicos têm a fama de terem grandes navegadores, então para quem curte a história naval, o Museu Marítimo é uma grande pedida.
A cidade também é boa para quem gosta de teatro.
O que mais se vê ao longo das pequenas ruas de Helsingor são faixas anunciando montagens, muitas de Shakespeare.
Por fim, você pode fazer o mesmo que eu fiz: pegar uma barca, atravessar o Mar Báltico e depois de dez minutos desembarcar lá na Suécia, mais precisamente na cidadezinha de Helsingborg.
Mas isso é assunto para outro post…
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