Quando você pensa em Bruxelas, capital da Bélgica, qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça?
Chocolate? Cerveja? Quadrinhos? Capital da União Europeia? Audrey Hepburn? Jean Claude van Damme? Jacques Brel? Tintim?
Sim, todos esses são famosos símbolos belgas. Porém, quando o Mochilão 2014 do Mude.vc desembarcou no aeroporto de Bruxelas, a figura que se via por todo canto era o Manneken Pis, ou o “menino que mija”, em bom português.
Intrigados, começamos a nos perguntar o que teria de especial nesta figura.
Provavelmente deveria ser uma estátua gigante. Ou feita em um material raro. Quem sabe por um escultor famoso. Ou simplesmente era revolucionária por colocar uma criança nua em praça pública.
Não importa o que fosse, teríamos que encontrar e ver com os próprios olhos o famoso mijão.
Bruxelas, uma grande pequena capital
Quando se pensa nas capitais europeias, geralmente temos em mente grandes cidades, multiculturais, com gente por todo lado e muita movimentação comercial.
Pois o nosso primeiro domingo na capital belga foi o oposto.
Pegamos o metrô logo cedo rumo ao centro da cidade, pensando em comer no caminho, mas não encontramos absolutamente nada aberto.
A fome foi batendo pesado. Começamos a ficar de mau humor. Surgiram os desentendimentos. Até o Palácio Real da Bélgica ficou feio.
Quando já estava perto das 14h e nossa melhor opção era fazer todo o caminho de volta para a estação e comer algo no metrô, eis que surge um restaurante italiano no meio de uma simpática praça.
Nunca vi ninguém beber tanta Coca-cola e comer tanto macarrão em tão pouco tempo quanto naquela mesa…
Bruxelas, como 161 km², não é tão grande quanto as capitais mais famosas da Europa. O censo aponta cerca de um milhão de habitantes, doze vezes menos do que São Paulo.
Nessa área pequena, o que mais havia eram lojinhas de souvenirs vendendo réplicas do Manneken Pis com diversas roupas, em diversos tamanhos, em diversos materiais (incluindo chocolate). Encontramos até um que torcia para o Brasil:
Outra vantagem de Bruxelas ser uma cidade relativamente pequena é que dá para conhecer vários pontos turísticos ao mesmo tempo, começando pelo Palácio Real da Bélgica.
Palácio Real de Bruxelas, parque e parlamento
Nós havíamos acabado de passar quatro dias em Viena, com todos aqueles palácios suntuosos. Nós estávamos com fome.
A soma desses dois fatores fez o Palácio Real de Bruxelas, no centro da cidade, parecer até feio quando o avistamos pela primeira vez.
Depois da macarronada italiana salvadora, voltamos para reiniciar o tour e adentramos nos aposentos reais. Ali a coisa mudou de figura.
O Palácio já não serve mais como residência da família real, porém é lá onde, até hoje, o Rei Filipe exerce suas funções de chefe de estado.
A visita é gratuita e não demora muito. Muitos quartos estão preservados da maneira como eram quando a família real lá vivia.
A parte mais interessante ficou para o final. Uma exposição mostra a paixão da família real pelo cinema quando a sétima arte ainda era uma criança. Há muitos vídeos do rei, que se metia até a filmar e dirigir.
Logo em frente ao Palácio, fica o Parque de Bruxelas, que se não impressionou pelo tamanho ou pela beleza ao menos apresentou um pequeno festival de jazz quando passávamos, nos dando a oportunidade de conhecer um quarteto africano que misturava o jazz com sons de sua terra natal.
Depois de passarmos por algumas dezenas de belgas deitados na grama queimando a pele branca no sol de domingo, ao final da travessia do parque surge o prédio do Parlamento da Bélgica.
O Palácio e o Parlamento, um de frente para o outro com o parque no meio, simbolizam o sistema de monarquia constitucional adotado na Bélgica.
O Poder Executivo, o povo, e o Poder Legislativo. Mas nada do menino que mija…
Catedral de Saint-Michel
Caminhando um pouco à esquerda do Parlamento, chegamos à Catedral de Saint-Michel.
Se o Palácio Real não havia conseguido arrancar de nós um suspiro de admiração, a Catedral fez isso por diversas vezes.
A começar pelo lado de fora, de onde se avistam imensas torres em estilo gótico, que foram construídas sobre as ruínas de uma antiga igreja romana (ainda preservadas no subsolo).
Dentro, outro suspiro pelas doze estátuas dos apóstolos e mais uma série de vitrais, esculturas e obras de arte que mostram toda a opulência da Igreja Católica de outas épocas.
Mas obviamente ali não encontraríamos nenhum garotinho urinando com o peru para fora. Nossa chance era procurar no ponto mais famoso de Bruxelas…
Grand-Place de Bruxelas
O escritor francês Victor Hugo, autor de Os Miseráveis, certa vez disse que a Grand-Place de Bruxelas era a praça mais bonita do mundo. E, realmente, o que encontramos ali é de impressionar.
Logo de cara comprei por cinco euros um saquinho de chocolates belgas e pude comprovar que eles merecem toda a fama que possuem.
Depois, sentei com os comparsas em um bar de calçada com a sombrinhas do famoso Delirium Café para experimentar alguma das tão faladas cervejas belgas.
Eu não sou muito de beber, muito menos cerveja. Mas tenho que dar o braço a torcer. Realmente dá para apreciar cerveja quando você tem a variedade e o sabor do que servem em Bruxelas.
O Delirium Café é conhecido por oferecer mais de 2.500 tipos de cerveja. Tem de tudo o que você imaginar.
Eu mesmo escolhi as cervejas, olhando uma a uma no cardápio. E, por sorte ou acurácia (na verdade eu escolhi pela caneca), acabei bebendo uma das melhores cervejas da vida. Anote aí para quando você for lá: Barbãr (na foto abaixo, é a do meio, servida na caneca).
Abastecidos, pudemos observar melhor a beleza da Grand-Place de Bruxelas, considerada o centro geográfico, histórico e comercial da cidade.
Em um espaço relativamente pequeno, considerado Patrimônio Mundial da Unesco, você encontra museus, palácios, hotéis e a Câmara Municipal de Bruxelas.
E até alguns indícios do famigerado Manneken Pis…
Soubemos, por exemplo, que a estátua sofreu tentativas de roubo pelos exércitos da França e da Inglaterra no século XVIII. E que foi efetivamente roubada em 1817, por Antoine Licas, que chegou a despedaçar o mijão original. Devia ser mesmo um monumento muito especial!
A única coisa que não encontramos na Grand-Place de Bruxelas foi o tradicional tapete de flores de Bruxelas, que cobre toda a Grand-Place no verão belga.
Essa tradição começou ainda na década de 1970, mas o tapete costuma durar somente um fim de semana, geralmente em meados de agosto. Portanto, se você pretende conhecer Bruxelas, veja se consegue encaixar o cronograma para estar lá na data certa.
Se não havia flores, ao menos localizamos na Grand-Place a rua que levaria à famosa estátua do menino que mija. E seguimos por ela para, finalmente, encontrar a figura mais famosa de Bruxelas…
Manneken Pis
Seria uma estátua gigante? Ou feita em um material raro? Por um escultor famoso? Em um local imponente?
Nada disso.
Depois de um domingo inteiro rodando por Bruxelas, eis que finalmente às 22h pontualmente, com o sol dando os últimos ares da sua graça, encontramos o menino que mija!
Olha a cara de decepção na foto.
Apesar de estar no aeroporto e em todas as lojinhas de Bruxelas, a estátua do Manneken Pis mede uns 30 centímetros no máximo. Fica na esquina de uma rua sem graça, colada a um prédio residencial qualquer. E ainda é uma réplica, vista que a original roubada em 1817 nunca foi encontrada…
Para falar a verdade, a melhor coisa do Manneken Pis é o bar que fica na esquina ao lado e que tinha mais uma dezenas de cervejas diferentes para oferecer… incluindo a Barbãr, com caneca e tudo!
Sentamos lá e ficamos vendo dezenas de turistas, desavisados como nós, encontrarem o menino que mija. Engraçado ver caras e mais caras de decepção com a pequena figurinha que derrama calmamente sua “urina” na bacia da fonte, gerando aquele barulhinho zen de água escorrendo.
Quando já havíamos quase esquecido de mirar o mijão, eis que ele solta um jato forte de água e molha todos os turistas que estavam na frente da fonte, transformando-os de decepcionados em surpresos.
Finalmente a busca havia valido pelo menos umas boas gargalhadas!
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Boa descrição. Senti-me representada no seu texto.