Surpreendente. Este é o melhor adjetivo que encontro para definir Edimburgo, a capital da Escócia, que conheci praticamente por acaso há alguns verões.

Minha ideia era sair de Barcelona para conhecer a Inglaterra, sobretudo Londres, desejo antigo que tinha e que levei mais de 27 anos para concretizar. Ocasionalmente, Edimburgo estava no caminho, sendo mais barato ficar na Escócia do que ir para Irlanda ou mesmo para o interior da Inglaterra.

Então lá fomos nós, sem muita empolgação. Ocorre que Edimburgo mostrou-se a mais interessante de todas as cidades que já visitei, talvez rivalizando um pouco com Florença.

Neste post falarei um pouco do que vi durante a semana que passei na capital da Escócia. Não será um guia turístico, mas sim minhas impressões pessoais. O vídeo abaixo mostra um pouco da experiência, que depois explicarei melhor no texto e através de fotos.

https://www.youtube.com/watch?v=JwRqCdLmzgA

Castelo de Edimburgo

O ponto de partida de qualquer guia turístico da cidade é o Castelo de Edimburgo, a construção mais antiga de toda a Escócia e em torno da qual o povoado se formou. Reserve um dia inteiro, especialmente o primeiro, para conhecer o lugar.

O castelo impressiona logo de cara por estar situado em cima de um vulcão extinto chamado Castle Rock, que deixa a construção visível em praticamente qualquer ponto da cidade.

A entrada é paga, custando cerca de 16 libras. Lá dentro, além da vista completa de Edimburgo, há diversas salas com pequenos museus que passam por boa parte da história da Escócia.

Entre as preciosidades mostradas, estão as Jóias da Coroa Escocesa: o cetro, a espada e a coroa. Mas o que mais me chamou atenção foi a inusitada história da Pedra do Destino, que merece um capítulo à parte.

castelo-de-edimburgo

A Pedra do Destino

ou: como quatro escoceses bêbados roubaram uma pedra na Inglaterra e causaram um incidente diplomático

A Pedra do Destino é uma rocha de mais de 150 quilos usada por séculos para coroar os monarcas da Escócia. Muitos escoceses a têm como sagrada ou como símbolo do nacionalismo.

Quando a Escócia foi tomada pela Inglaterra no século XIII, o rei Edward I levou a pedra para Londres como espólio de guerra. Ele a colocou abaixo de um trono de madeira na Abadia de Westminster.

A pedra ficou lá por lá até 1950, quando a parte realmente interessante da história começa.

Edimburgo tem a fama de ser uma cidade boêmia, onde as pessoas bebem bastante uísque, cerveja e vinho. Pois em uma dessas bebedeiras, numa noite de Natal, um grupo de quatro estudantes escoceses teve a brilhante ideia de dirigir de Glasgow até Londres e resgatar a Pedra do Destino!

Dezoito horas de estrada depois, eles entraram à noite na Abadia de Westminster, escondidos do segurança e conseguiram chegar até à pedra. Quando tentaram erguer a rocha de 150 quilos, ela caiu no chão e quebrou em dois pedaços!

Pedra do Destino em Edimburgo

A história é tão boa que virou filme

A pedra espedaçada foi colocada em dois carros. No caminho de volta para a Escócia, o grupo foi parado em uma blitz da Lei Seca e teve que enrolar os guardar sobre o que estavam levando no porta-malas. Aliado à isso, o peso da pedra estava acabando com a suspensão dos carros.

Os intrépidos tiveram então outra brilhante ideia, de deixar o pedaço mais pesado da pedra em um campo na pequena cidade inglesa de Kent, voltar para a Escócia e descobrir uma maneira de trazer a pedra depois.

Só que, obviamente, a polícia percebeu o roubo da pedra na Abadia de Westminster e, pela primeira vez em mais de 400 anos (!) fechou a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia.

Os quatro esperaram a poeira baixar, voltaram a Kent e conseguiram levar a pedra de volta para a Escócia. Contrataram um pedreiro que conseguiu emendar os dois pedaços e ainda tiveram a sagacidade de deixar um bilhete escondido entre os pedaços colados. Até hoje, o conteúdo do bilhete é desconhecido.

Um ano depois, a polícia inglesa encontrou a Pedra do Destino na Abadia de Arbroath, uma pequena cidade da Escócia. A investigação chegou aos quatro estudantes, mas eles não foram processados por medo de que o caso tomasse proporções políticas separatistas maiores. Na Escócia, os quatro foram considerados heróis e viraram até personagem de filme por tentar recuperar um símbolo do orgulho de uma nação antes independente.

A Pedra do Destino foi levada de volta para Londres e lá ficou até 1996, quando o então primeiro-ministro Tony Blair, que é natural de Edimburgo, promoveu sua devolução para a Escócia.

Atualmente a pedra está no Castelo de Edimburgo e você pode encontrá-la na parte leste, no chamado Palácio Real, junto com as Jóias da Coroa.

Guia turístico grátis em Edimburgo

Gaita de fole em Edimburgo

Eu fiquei sabendo dessa história graças a um excelente guia turístico gratuito que consegui em Edimburgo.

O grupo faz diversos percursos, sempre a pé, saindo em horas pré-determinadas. O acordo é o seguinte: você acompanha o grupo, ouve as histórias do guia turístico (como essa da Pedra do Destino) e, ao final, decide o quanto quer pagar, inclusive nada.

A vantagem é que, se você não estiver gostando, pode sair no meio. Além dessa experiência em Edimburgo, eu fiz o percurso com o mesmo grupo de guia turístico em Londres e lá a guia, que falava espanhol, era muito ruim. No meio do passeio eu desisti e encontrei outro grupo, com guia turístico em inglês, muito melhor.

Royal Mile

O principal percurso feito pelo guia turístico em Edimburgo foi caminhar por toda a Royal Mile, uma espécie de trilha que percorre toda a cidade velha. Por esta via, passamos pela National Gallery of Modern Art, pela Royal Schottish Academy e pelo Scotch Whisky Heritage Center, uma espécie de museu do whisky.

Bobby, o Cemitério e Harry Potter

Um fato inusitado de Edimburgo é a utilização do cemitério da cidade como um parque. As pessoas descansam no cemitério na hora do almoço, fazem um piquenique, ficam de bate-papo entre os túmulos.

O cemitério fica localizado no centro da cidade e, se você olhar os túmulos com calma, pode encontrar nomes como Harry, Voldemor, Ron ou Hermione.

Cemitério de Edimburgo

É um cemitério ou um parque?

Explica-se. A autora J.K. Howling viveu um tempo em Edimburgo e lá escreveu o início da série Harry Potter. Ela costumava escrever em bares e cafés e um deles fica bem em frente a um colégio e ao cemitério.

O colégio serviu de inspiração para a criação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, enquanto o cemitério forneceu o nome de alguns personagens.

O mais famoso personagem do cemitério, no entanto, é Bobby, um skye terrier que ficou famoso em Edimburgo por ficar, por 14 anos, ao lado do túmulo de seu dono. O cão era o fiel companheiro de John Gray, um policial escocês que vigiava os arredores do cemitério e que morreu de tuberculose.

Bobby Greyfriars

Bobby ganhou até filme, chamado no Brasil de “Meu leal companheiro”

A fama de Bobby no local é tanta que, apesar de ser proibido o enterro de animais, ele ganhou um túmulo bem na entrada do cemitério. Mais que isso, ganhou uma estátua em 1872 e foi tema de livro (Greyfriars Bobby) e de um filme da Disney na década de 1960 e outro mais recentemente.

Assembly Hall

Um dos prédios que achei mais bonito em Edimburgo foi o Assembly Hall, também conhecido como Igreja de Saint Columba. Essa construção do século XIX abrigou temporariamente o Parlamento Escocês, entre 1999 e 2004.

Calton Hill

Se você for no verão, a pedida é fazer a trilha morro acima no Calton Hill, uma colina que fica bem no centro de Edimburgo. A subida é íngreme e eu não encarei, mas bateu um arrependimento depois.

Holyroodhouse

Quando a Rainha Elizabeth visita a Escócia, a sua residência oficial é o Palácio de Holyroodhouse, na região central de Edimburgo. Esse é um castelo menos imponente, construído no século XII para ser um mosteiro.

Camera Obscura

Uma espécie de museu de ilusões de ótica, a Camera Obscura de Edimburgo é um local que mostra como podemos ser enganados pelos nossos olhos a todo instante.

A experiência mais impressionante é uma espécie de ponte envolta em um rolo no qual há luzes coloridas. Você fica no meio da ponte e, quando o rolo começa a rodar, a ilusão de ótica é tão forte que você se sente fisicamente impelido, como se a ponte realmente estivesse rodando. A força é tanta que, se você não segurar no corrimão da ponte, acaba caindo de verdade, embora nada esteja acontecendo.

Não recomendado para quem tem labirintite, acredite em mim.

Cultura em Edimburgo

Charles Darwin, David Hume, Graham Bell, Artur Conan Doyle são alguns dos escoceses famosos, muitos com estátuas pelas ruas de Edimburgo.

Os dois principais símbolos da cidade, no entanto, são a gaita de fole e o kilt, aquele famoso saiote masculino xadrez.

Para quem gosta de cultura, a principal atração da Escócia é o Festival Internacional de Edimburgo, que reúne no verão diversas atrações de música, dança e teatro pelas ruas da cidade.

O mês de agosto, aliás, é o mais indicado para ir a Edimburgo. Além de o clima ser mais ameno, há diversos festivais estudantis que ficam na órbita do Festival Internacional de Edimburgo.

Hospedagem e transporte

Fiquei hospedado em um hotel barateiro dentro de uma universidade local. Tentei recuperar o nome, mas não consegui. Só lembro muito bem que era difícil se comunicar com os atendentes, pois o sotaque escocês torna o inglês de lá praticamente uma outra língua.

O transporte em Edimburgo é simples. Como se trata de uma cidade relativamente pequena, dá para fazer praticamente tudo a pé. As principais atrações ficam todas concentradas na região central da cidade.

O sistema de ônibus tem boa capilaridade, dá para ir a qualquer ponto da cidade usando os coletivos. Só fique atento porque o pagamento é por moedas, que são inseridas na cabine do motorista e eles não dão troco. É preciso colocar o valor certinho ou arcar com o prejuízo.

P.S.Se você quer saber como montar um plano de vida que te faça assumir o controle do seu próprio futuro, clique aqui para receber uma aula especial do curso Planejando Sua Vida.

Walmar Andrade

Walmar Andrade é um advogado, programador e jornalista que estuda a relação entre Direito Digital, Tecnologia e Comunicação. Pós-graduando em Direito Digital (UERJ), tem pós-graduação em Direito Legislativo (IMP-DF), MBA em Planejamento, Gestão e Marketing Digital (FECAP-SP) e Master en Comunicación Empresarial (INSA-Barcelona). Escreve também no site walmarandrade.com.br

6 Comments

  1. Cara que post ótimo, já fiquei morrendo de vontade de conhecer a Escócia.

    Responder
  2. ola…gostei muito mesmo do post…so como estarei 2 dias de parada do navio celebrity em endiburgh , em agosto,gostaria de saber se teria algum guia brasileiro pra me indicar…assim aproveitariamos melhor o dia …aguardo e agradeco

    Responder
    • Oi Mariangela,

      Não conheci nenhum guia brasileiro lá para te indicar :(

      Boa viagem!

      Responder
  3. Que pena que nao bati perna com voce aqui Walmar.
    Sou guia e moro aqui na Escocia faz ja 14 anos.

    Muito bacana essas informacoes que voce passou.

    Parabens!

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    • Rafael, deixe seu contato.
      Estou indo para Edimburgo em junho e gostaria de contratar um guia que fale português para acompanhar um grupo de 3 pessoas.

      Responder
  4. Oi! Muito legal o artigo que escreveu sobre Edimburgo! Também sour formada em Comunicaçao Social pela UFRJ e moro aqui na Escócia há quase 8 anos. Tenho a Wee Scotia Tours, uma pequena operadora turistica. Ofereço tours personalizados e guiados em portugues em Edimburgo e por toda a Escócia! Somos uma pequena equipe de guias especializados e grandes estudiosos da Escócia. Se um dia voltar por aqui, me dá um toque :-) Super abraço!! Susana Grillo

    P.S. Este é o meu site: http://www.weescotia.com

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